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6.3.12

As Obras de Santa Engrácia


Este edifício já foi quartel, depósito de materiais de guerra e fábrica de calçado. Mas nunca foi Igreja.



















Manuel de Arriaga // Amália Rodrigues

Exposição "As Obras de Santa Engrácia":


(quando aqui se faziam botas da tropa)
Relíquias de Santa Engrácia

Espólio de António Óscar Fragoso Carmona

Breve cronologia das Obras de Santa Engrácia:
1568

- criação da nova paróquia de Santa Engrácia pelo Papa Pio V. 
1570
- início das obras da primeira igreja (de que não restam vestígios) do arquitecto Jerónimo de Ruão, mandada construir pela infanta D. Maria, última filha do rei D. Manuel I.
1630
- uma noite, a igreja é profanada e o cofre roubado; o cristão novo Simão Pires Solis é acusado e levado em procissão até ao Campo de Santa Clara, sendo-lhe decepadas as mãos e de seguida queimado vivo. Segundo a lenda, na hora da morte terá lançado uma maldição, predizendo que as obras "nunca haviam de ver-se concluídas".
1631
- 100 nobres do reino fundam a Irmandade dos Escravos do Santíssimo Sacramento para desagravar o sacrilégio cometido na igreja, procedendo à destruição da capela-mor. Início das obras da segunda igreja por Mateus do Couto, com "esmolas régias" de Filipe III e quotas anuais dos 100 Irmãos.
1640
- com a Restauração e a consequente divisão política dos fidalgos da Irmandade, as obras decorrem a um ritmo lento.
1664
- morre o arquitecto Mateus do Couto e a obra pára.
1676
- é encarregue da obra o sobrinho do anterior arquitecto (também ele chamado Mateus do Couto).
1681
- desaba a capela-mor, arrastando parte das antigas paredes da primitiva igreja quinhentista.
- a Irmandade aprova projecto do mestre pedreiro João Antunes para a construção de uma nova igreja.
1682
- o príncipe D. Pedro lança a primeira pedra da actual igreja, edificada de raiz; uma vez mais, a obra é custeada pelas "esmolas régias" e as quotas dos Irmãos.
1686 / 1692
- as obras param.
1694
- D. João da Gomes da Silva, 1º Director da Academia Real de História, é nomeado Superintendente das obras de Santa Engrácia.
1707
- nesta altura os muros atingiam o piso das tribunas.
1712
- morre o mestre pedreiro João Antunes.
1724
- D. João V manda trazer à sua presença todos os desenhos relativos a Santa Engrácia
1733
- D. Francisco Xavier de Menezes, 4º Conde da Ericeira, anota no seu Diário que o Rei não aprova a igreja por achá-la "pequena". Noutra passagem, escreve que o Rei "tem resoluto acabar a igreja de Santa Engrácia com brevidade e fazê-la maior".
1747 / 1763
- as obras encontram-se totalmente paradas, pois o Rei estava totalmente concentrado nas obras de Mafra; a Irmandade decide cobrir a igreja com uma cúpula de madeira, ficando assim até meados do séc. 20
1755
- o terramoto não causa grandes estragos na igreja. O rei D. José nomeia para Superintendente das obras de Santa Engrácia um irmão do Marquês de Pombal.
1816
- são encomendados planos para os retábulos das capelas, ao arquitecto Honorato José Correia de Macedo e Sá
1834
- com a extinção das ordens religiosas, a igreja é entregue às instituições militares, tendo sido utilizada como quartel, depósito de materiais de guerra e fábrica de calçado do exército.
1916
- publicação de uma lei de 29 de Abril conferindo à Igreja de Santa Engrácia a condição de Panteão Nacional.
1934
- é constituída uma comissão pelo escultor Francisco Franco, o arquitecto Cristino da Silva e o olissipógrafo Gustavo de Matos Sequeira, destinada a elaborar um parecer sobre a forma de concluir as obras.
1956
- foram tomadas medidas efectivas para a recuperação do edifício existente e construção da cúpula; são pedidos novos estudos a dez arquitectos dos quais apenas se conhecem hoje os de António Lino e Luís Amoroso Lopes, tendo sido escolhido este último para prosseguir o desenvolvimento do trabalho.
1962 / 1966
- conclusão da construção com assentamento da cúpula.
1966
- execução das esculturas de Santa Engrácia, de Santa Isabel, de Nuno Álvares Pereira, de Santo António, de São João de Brito, de São João de Deus e de São Teotónio, por António Duarte.
- inauguração solene do Panteão Nacional (7 Dezembro).


assinatura de Arantes e Oliveira, Ministro das Obras Públicas

Eduardo de Arantes e Oliveira, Engenheiro Civil com extenso currículo e vincada personalidade, foi Ministro das Obras Públicas durante 13 anos. A sua tenacidade e segurança nas decisões foram determinantes na cuidadosa gestão dos meios disponíveis para que as obras de Santa Engrácia chegassem finalmente ao fim.

Num interessante artigo escrito à data da inauguração, Arantes e Oliveira afirmava:
"Há quem diga que as obras de Santa Engrácia foram interrompidas porque surgiram dúvidas sobre a robustez da infra-estrutura que suportava o peso da cúpula. Mas que espécie de dúvidas? Teriam elas a ver com as fundações e a formação geológica em que a igreja se apoia? Duvido. Ocorre-me, à guisa de explicação, invocar um precedente bem conhecido na história da arquitectura portuguesa: o das “Capelas Imperfeitas” do Mosteiro da Batalha. Ficaram para sempre “imperfeitas” porque um novo monumento, o Mosteiro dos Jerónimos, despertou o interesse de D. Manuel. O mesmo terá certamente acontecido com Santa Engrácia, obra de D. Pedro II, quando a atenção de D. João V passou a concentrar-se na ciclópica obra de Mafra. E, num e noutro caso, o próprio facto de o gosto ir mudando de uns reinados para os outros pode explicar uma revisão da política ligada às grandes obras arquitectónicas.
Sendo a mais antiga igreja barroca do País, Santa Engrácia é talvez um dos mais perfeitos edifícios barrocos no Mundo. Talvez não tenha sentido falar em perfeição quando se trata do barroco, um estilo assumidamente não-clássico. Mas quem poderá ficar insensível à harmonia das fachadas vigorosamente onduladas que ligam entre si os quatro enormes torreões (que, lamentavelmente, não foram - ainda - rematados por pináculos) associados aos vértices da envolvente quadrada da base do monumento?
De qualquer modo, não foi por acaso que as obras de Santa Engrácia foram terminadas na década de 60 do século XX. O recurso a materiais modernos, como o betão armado, com que, seguindo um projecto de engenharia da autoria de Edgar Cardoso, as duas folhas da cúpula foram construídas antes de receberem o seu forro de pedra, facilitou a tarefa.
"

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